«A Alam Humana é feita pra não estar sozinha» Pierre Chardin
Mesmo quando 40% dos portugueses* diz que irá gastar menos este ano durante o período Natalício, continuamos a ver milhares de pessoas que invadem de manhã à noite as nossas ruas, lojas e centros comerciais, num movimento louco à procura de algo que durante o ano possivelmente não conseguiram ou não tiveram tempo de encontrar. E porquê nesta altura? E porquê todo este frenesim? A resposta dada por 99% destas pessoas é simples: "É Natal e por isso devemos e havemos de poder comprar. É assim. É isso que importa".
Por ser Natal cometem-se excessos, esquecem-se dificuldades, pretende-se comprar sentimentos e, por vezes, faz-se de conta que todos nos preocupamos por algo ou alguém.
Mas quem consegue estar imune a este movimento de consumismo desmedido nesta época? Neste particular, assumo que também faço parte deste movimento de pessoas que nesta altura entra e sai em diversas lojas e, que passa horas num centro comercial, tentando riscar todos os nomes daquela lista feita à última hora por forma a não esquecer ninguém. Contudo, não é por fazer parte desse grupo que cede, em parte, ao consumismo natalício, que ignoro a verdadeira essência do espírito de Natal e do seu verdadeiro significado.
Não esqueçamos a Ceia de Natal em família; a harmonia proporcionada pelo verdadeiro amor familiar; o convívio com aqueles que não vemos regularmente e, muito especialmente, com os que algo distantes, face ao stress provocado pela nossa sociedade, diariamente não têm tempo para nos lançar um sorriso, ou, dar um forte abraço.
É o momento ideal para uma verdadeira introspecção à nossa conduta perante a factualidade que tem vindo a afligir, não só a nossa sociedade, mas, também, as outras além fronteiras, das quais não podemos dissociar o nosso destino. É, ainda, um momento oportuno de profunda reflexão retrospectiva, ao que ao longo dos últimos tempos fomos sendo capazes de construir. Em síntese, é um momento especial de análise e de definição de vontade de traçarmos novas metas e, por assim dizer, um período em que pomos de parte normas, rotinas diárias, reposicionando-nos na vida.
Como já anteriormente fiz sentir, não é por fazer parte deste grupo que nesta quadra se preocupa, de forma avassaladora, em comprar prendas, que ignoro a existência de um outro Natal! Um Natal onde a maior preocupação não seja a que resulta de uma lista de prendas, ou, de um tempo para invadir lojas.
Termino, expressando a verdadeira existência de um Natal onde haja um espaço para partilharmos com quem e com o quê, a celebração de uma noite de esperança. De um Natal que invada a vida do homem de forma continuada e não circunstancial. De um Natal que desperte os nossos corações já algo empedernidos, e que os torne mais sensíveis a momentos menos felizes que afectam, não só quem nos é próximo, mas muito especialmente quem não conhecemos e que sofre em silêncio. De um Natal onde mães e pais, perderam sentido pela vida com o desaparecimento de seus filhos. De um Natal, onde na mesa de uns, uma côdea de pão é o seu único manjar. De um Natal que faço brilhar nos olhos de quem muito precisa e despertar nos corações de quem pode ajudar, traços de uma realidade mais justa e nobre, por forma a dar um verdadeiro sentido de Natal. De um Natal, onde o maior desejo de quem lhe estenda a mão, seja o de um gesto de carinho e o de lhe lembrar que afinal nem sempre estará só. De um Natal onde o maior desejo de todos nós se traduza na vontade de que a pessoa que temos ao nosso lado continue assim por largos anos.
Por tudo o que fui expressando, julgo que a melhor mensagem é aquela que sai em silêncio e directamente do nosso coração, aquecendo com ternura os daqueles que nos acompanham nesta caminhada que é a vida.
Não querendo esquecer a verdadeira essência deste período, lanço o desafio a todos os leitores para que durante os próximos dias parem, olhem, e com um sorriso de orelha a orelha, desejem um Feliz Natal cheio de muita harmonia e luz a quem o vosso coração vos disser que necessita de uma palavra amiga.
Eu desejo-vos isso!
Feliz Natal
*segundo um estudo recentemente divulgado pela GFK