segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Idei@s_09..."Novas Torres de Babel-Parte I"

«A Democracia...é uma constituição agradável, anárquica e variada, distribuidora de igualdade, indiferentemente, a iguais e desiguais »
A República, Platão


Recentemente adquiri um pequeno livro: desses que se lêem durante o almoço, ou, durante um passeio no parque. Um desses livros que aparentemente não nos parecem suscitar qualquer interesse, como a sombra de um banco no chão de uma calçada, ou, de um simples raio de sol invadindo um beco escondido. Um livro pequeno, de capa escura e sem quaisquer grafismos inovadores.

Uma primeira leitura desse livro, levou-me a uma curta viagem aos tempos de universitário, onde, durante o intervalo das aulas então leccionadas, para além dos temas genéricos e habituais, discutíamos sobre política e Democracia, e onde posições contrárias eram mais do que normais e frequentes. E era nessa diferença que residia a riqueza das ideias e a sustentabilidade dos passos futuros de cada um e estava subjacente a ideia da Democracia outrora conquistada. Este livro, de apenas 85 páginas, fala sobre as nações, as suas culturas, a democracia, o projecto europeu, etc. Em síntese, 85 páginas sobre a Democracia, a Nação e a Religião. É verdade: não parece ser muita a informação que podemos encontrar em tão poucas páginas, mas é sem dúvida profunda a reflexão que delas podemos tirar, seja qual for a nossa posição.

Uma das reflexões deste autor – nome que não revelarei, pois espero que a curiosidade vos leve a ler as crónicas seguintes que dedicarei a este tema, na procura de alguma pista que o identifique –, que me chamou a atenção, está relacionada com o conceito da Democracia moderna. A ideia chave desta reside numa edificação simultânea de duas torres de Babel que disputam, diplomaticamente entre si, a autoria da Democracia futura. Mas, ao contrário do conceito da “Babel” bíblica, estas torres, estão a ser edificadas sustentando-se na ideia de que, uma vez que qualquer diferença colectiva põe em perigo a unidade humana, é imprescindível tornar irrelevante toda a diferença e, sob o flash desta unidade proclamada pelas novas torres de Babel, a humanidade mobiliza-se, pouco a pouco e sem se dar conta, para uma liturgia contínua e interminável de adoração de si, descaracterizando-se a si, à Democracia e, ao futuro da humanidade.

Até ao próximo número do Idei@s, gostaria de vos deixar uma interrogação, para a qual, felizmente, ainda não tenho resposta pois uma contribuição assente na diferença formulará uma resposta mais rica:

“Poderá a Democracia futura continuar a assentar no pressuposto de uma unidade de povos cultural, religiosa, política e historicamente diferente? Ou estaremos rumo a uma Democracia descaracterizada, assente numa diferenciação desmedida e baseada numa “diplomacia pingue-pongue entre as duas novas torres, onde o princípio da unidade assente na diferenciação está a desaparecer e o princípio unificador das nossas vidas a perder a sua forte ligação?”

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